Crianças podem fazer musculação? O que a ciência diz sobre o treinamento de força na infância.
Durante muito tempo, acreditou-se que crianças não deveriam levantar pesos. A ideia era de que o treinamento de força poderia comprometer o crescimento, danificando as placas de crescimento ósseo. Essa visão foi reforçada por recomendações antigas, como o guia da Academia Americana de Pediatria (AAP) de 1983, que alertava para uma suposta alta taxa de lesões em pré-adolescentes.
Mas a ciência evoluiu — e com ela, as diretrizes.
Pesquisas mais recentes têm mostrado que, quando bem orientado e adaptado à faixa etária, o treinamento com pesos pode ser seguro e até benéfico para crianças e adolescentes. Em 2008, a própria AAP revisou sua posição. Dois anos depois, publicou um novo guideline reconhecendo os benefícios do treinamento de força supervisionado para o desenvolvimento físico infantil.
Entre os principais ganhos, destacam-se:
– Aumento da densidade mineral óssea
– Melhora na coordenação e desempenho motor
– Prevenção de lesões esportivas
– Preparação física para modalidades competitivas
No entanto, nem tudo se resume ao aspecto fisiológico.
Por que a criança quer treinar? Ela está realmente motivada ou apenas repetindo padrões dos adultos ao seu redor?
É comum que crianças imitem os pais — o que pode ser positivo, mas também gerar distorções. Muitos hábitos de treino precoce vêm da projeção dos desejos dos adultos nos filhos: o que os pais gostariam de ter sido, ou o que gostariam que os filhos fossem.
Casos de atletas famosos como André Agassi e Nadia Comăneci evidenciam que o sucesso precoce pode vir acompanhado de sofrimento psicológico e pressões desproporcionais.
Por isso, mais importante do que o tipo de exercício é o contexto em que ele acontece. Toda atividade física na infância deve ser segura, prazerosa, lúdica e multifuncional — ou seja, promover diversas habilidades como correr, saltar, arremessar, manter o equilíbrio e desenvolver ritmo.
O ambiente também é fundamental. Crianças aprendem por observação e absorvem comportamentos com facilidade. Elas não escolhem seus modelos de forma consciente. Cabe aos adultos criar um espaço saudável, acolhedor e respeitoso para que o exercício se torne um aliado no desenvolvimento físico, emocional e social.
Em resumo:
Sim, crianças podem praticar musculação — desde que com orientação adequada, acompanhamento profissional e objetivos compatíveis com a fase da vida. O treino na infância deve fortalecer o corpo, mas sem jamais sobrecarregar a mente.
Fonte: https://bjsm.bmj.com/content/48/7/498