Retorno ao esporte após prótese de joelho: taxas, prazos e recomendações médicas

A artroplastia total do joelho (prótese do joelho) é uma das intervenções cirúrgicas mais realizadas no mundo para o tratamento da osteoartrite avançada e outras doenças degenerativas do joelho. Tradicionalmente associada a pacientes idosos e sedentários, essa cirurgia tem sido cada vez mais indicada a indivíduos mais jovens e ativos, que não apenas desejam alívio da dor, mas esperam retomar uma vida funcional plena — incluindo o retorno à prática esportiva.

Essa mudança de perfil populacional coloca em evidência uma pergunta fundamental: é possível voltar ao esporte após uma prótese de joelho?

O que dizem os dados mais recentes?

Uma revisão sistemática com meta-análise, publicada em 2023 no Journal of Bone and Joint Surgery Reviews, avaliou 44 estudos que envolveram pacientes submetidos à prótese primária, com foco nas taxas e no tempo de retorno ao trabalho (RTW) e ao esporte (RTS). Os resultados são encorajadores:

  • A taxa média de retorno ao esporte foi de 82% (IC95%: 72–89%), com tempo médio de 20 semanas(aproximadamente 5 meses).

  • Esportes de baixa intensidade (como caminhada, bicicleta e natação) apresentaram taxas de retorno de até 76%, enquanto esportes de alta intensidade (como corrida, tênis ou futebol) tiveram taxa média de apenas 35%.

  • Fatores como idade avançada e menor atividade física prévia foram associados a menor chance de retorno ao esporte1.

Esses dados reforçam a importância de uma abordagem centrada no paciente, com definição realista de metas e plano de reabilitação individualizado.

Retorno ao esporte como parte do sucesso cirúrgico

A noção de sucesso após a prótese evoluiu. Hoje, não se limita à ausência de dor ou melhora da função articular, mas inclui também a capacidade de o paciente retomar suas atividades de lazer e exercício — aspectos essenciais da saúde física e mental. Em muitos casos, a volta ao esporte está associada a maior satisfação com o procedimento, melhor qualidade de vida e menores índices de depressão ou isolamento social2.

Essa perspectiva é ainda mais evidente em modalidades esportivas de baixa demanda. Um estudo recente publicado na revista Sports Health avaliou especificamente o retorno ao golfe após a prótese e mostrou que 81,5% dos pacientes conseguiram retornar à prática em média 5,3 meses após a cirurgia, com melhora significativa na dor, na estabilidade percebida e na performance. O tipo de implante (com preservação ou substituição do ligamento cruzado posterior) não influenciou os desfechos funcionais nem a satisfação3.

A influência do contexto psicossocial

O retorno ao esporte — assim como ao trabalho — não depende apenas de variáveis clínicas. Um estudo prospectivo e multicêntrico conduzido nos Países Baixos analisou o papel de fatores psicossociais no retorno de pacientes à atividade após a prótese. Publicado em 2022, esse trabalho mostrou que elementos como reconhecimento social, suporte emocional, sensação de autonomia e qualidade da comunicação com os profissionais de saúde influenciam de maneira significativa o sucesso da reabilitação4.

Em outras palavras, a motivação do paciente, sua rede de apoio e as orientações recebidas no pré e pós-operatório são tão relevantes quanto o tipo de prótese utilizada.

Diretrizes atuais: o que é permitido?

Sociedades internacionais, como a American Association of Hip and Knee Surgeons (AAHKS) e a American Academy of Orthopaedic Surgeons (AAOS), não contraindicam o retorno à prática esportiva após prótese, desde que sejam respeitadas as seguintes recomendações:

  • Esportes de baixo impacto são fortemente encorajados: caminhada, golfe, ciclismo, natação, remo, dança e ioga.

  • Esportes de médio impacto devem ser avaliados caso a caso, como tênis recreativo, esqui e trilhas leves.

  • Esportes de alto impacto, como corrida competitiva, futebol e basquete, não são proibidos, mas geralmente desaconselhados por risco de desgaste precoce do implante.

Importante: a decisão deve ser compartilhada entre paciente, cirurgião e equipe de reabilitação, respeitando o perfil clínico, as expectativas e os objetivos do indivíduo.

Considerações finais

A artroplastia total do joelho continua sendo uma intervenção altamente eficaz para o alívio da dor e melhora funcional em casos de artrose avançada. Com o avanço das técnicas cirúrgicas e da reabilitação personalizada, o retorno ao esporteapós a prótese não é apenas viável, mas muitas vezes desejável — desde que conduzido com critério, segurança e embasamento técnico.

O movimento é saúde. E, com orientação adequada, ele pode continuar fazendo parte da vida mesmo após uma prótese.

Referência

  1. Pasqualini I, Emara AK, Rullan PJ, Pan X, Simmons HL, Molloy RM, et al. Return to Sports and Return to Work After Total Knee Arthroplasty: A Systematic Review and Meta-Analysis. JBJS Rev. 2023 Jul 27;11(7). doi:10.2106/JBJS.RVW.22.00250.

  2. Witjes S, Gouttebarge V, Kuijer PP, van Geenen RC, Poolman RW, Kerkhoffs GM. Return to sports and physical activity after total and unicondylar knee arthroplasty: a systematic review and meta-analysis. Sports Med. 2016;46(2):269-92. doi:10.1007/s40279-015-0421-9.

  3. Tramer JS, Maier LM, Klag EA, Ayoola AS, Charters MA, North WT. Return to Play and Performance in Golfers After Total Knee Arthroplasty: Does Component Type Matter? Sports Health. 2022;14(3):433-439. doi:10.1177/19417381211019348.

  4. Kamp ME, van Wier MF, van der Beek AJ, de Bruin MA, Coenen P, Hulshof CTJ. The psychosocial work environment as determinant of return to work after total knee arthroplasty: a prospective cohort study. J Occup Rehabil. 2022;32(4):600-609. doi:10.1007/s10926-021-10000-5.

Leonardo Addeo RamosComentário